sexta-feira, 14 de julho de 2017

14 de julho - São Camilo de Léllis

Como Deus age e faz o que ninguém espera! 

São Camilo de Léllis tinha um  temperamento violento, viciado em jogo, passou sua juventude entre o baralho, os dados e as armas,m mas uma ferida providencial na perna foi ocasião para que ele conhecesse o mundo do sofrimento e da verdadeira caridade, chegando, por esse caminho, a descobrir sua vocação para a santidade.

Camilo nasceu no ano 1550 em Bucchianico, nos Abruzzos, no antigo Reino de Nápoles. Como aconteceu com São João Batista, sua mãe já era avançada em idade quando o concebeu e cumprindo uma promessa seu parto foi num estábulo.
O pai, a serviço das armas, vivia mais nos acampamentos e campos de batalha do que no lar. Como poderia uma mãe idosa educar um menino que se tornou muito crescido para sua idade, e de um temperamento belicoso como o sangue que lhe corria nas veias?
Apesar disso, conseguiu ensinar-lhe os rudimentos da Religião. Mas, sem que ela o soubesse, a par disso o menino aprendia também o segredo das cartas e dos dados, e aos 12 anos já era um viciado jogador.

Entre o jogo e as armas

Com a morte da mãe, Camilo entregou-se desvairadamente ao jogo, perdendo tudo o que tinha. Entrou então para o exército, onde aprendeu as virtudes e os vícios dos soldados.
Com o pai, foi alistar-se no exército que a República de Veneza  recrutava para combater os turcos muçulmanos. Mas no caminho seu pai João de Lellis, faleceu e foi enterrado perto de Loreto. Como herança, Camilo recebeu uma arma e uma espada; e da herança divina, uma chaga misteriosa na perna, que aparecerá sempre que necessário, para conduzi-lo ao caminho de sua futura vocação.
A fome e a miséria, e sobretudo a supuração de sua chaga, fizeram-no desistir da carreira militar. Tocado pelo exemplo de dois franciscanos, com sua modéstia e doçura, Camilo fez voto de ser um deles. Mas por causa da chaga, não foi recebido.
Acabou indo para Roma, sendo recebido no Hospital dos Incuráveis como enfermeiro, para curar a perna e ganhar algum dinheiro. Mas a paixão do jogo o perseguia, e ele fugia do hospital para ir atrás das cartas. Como incorrigível, foi expulso do hospital.

Combatia como herói, jogava como um demônio

Pensou novamente na carreira das armas e entrou, a serviço delas, em um navio veneziano que partia para o Oriente. Participou de várias batalhas, e por estar gravemente enfermo não pôde combater na famosa batalha de Lepanto, em que Nossa Senhora apareceu e deu a vitória aos católicos contra os muçulmanos.
Enquanto lutava como um herói, jogava como um demônio. Uma violenta tempestade no mar fez com que ele, assustado, se lembrasse do voto de tornar-se franciscano. Passada a tormenta, esqueceu-se novamente do voto, continuando na carreira das armas e subjugado pelo vício do jogo.
Retornou a Roma para cuidar da chaga, que lhe reaparecera na perna. Mas perdeu no jogo até a camisa do corpo. Saiu da cidade, e em Manfredônia foi recebido pelos capuchinhos. O superior do convento, notando-lhe algo de especial, falou-lhe de Deus e da vocação religiosa. Camilo, tocado pela graça,  converteu-se, sendo recebido como postulante. Quando passava pela vila, conduzindo duas mulas do convento, a criançada corria atrás dele gritando: “Aí vem o São Cristóvão, aí vem o São Cristóvão!”, devido à sua elevada estatura.

Na escola, humildemente entre os meninos

Quis continuar seus estudos, para ordenar-se sacerdote. Como Santo Inácio de Loyola, voltou para a escola com os meninos, o que o tornava sobremodo notório pela sua estatura, tão mais elevada que a de seus colegas.
Entretanto, não era vontade de Deus que ele permanecesse entre os franciscanos. A úlcera reapareceu em sua perna e eles, pesarosos, o despediram.
Voltou para a Cidade Eterna, onde permaneceu durante quatro anos até a úlcera ser curada. Julgou então seu dever voltar para os franciscanos, apesar de seu confessor, São Felipe Néri, o ter desaconselhado, predizendo que a chaga se reabriria. Foi o que aconteceu, tendo Camilo que voltar ao hospital.
Ali, dedicou-se a cuidar dos enfermos, chegando a ser nomeado administrador geral do hospital. Certo dia, olhando para o Crucifixo enquanto cuidava dos doentes, exclamou: 

“Ah! Seria necessário aqui homens que não fossem conduzidos pelo amor ao dinheiro, mas pelo amor de Nosso Senhor; que fossem verdadeiras mães para esses pobres doentes, e não mercenários. Mas, onde encontrar tais homens?”.

Começou então a ruminar o pensamento da fundação de uma Ordem religiosa para essa finalidade.

Nasce a Ordem dos Camilianos

Logo se lhe juntaram mais quatro discípulos, com os quais ele se reunia para rezarem e meditarem juntos, e depois cuidarem dos enfermos. Era o núcleo de sua futura congregação. Nas mil e uma dificuldades que surgiram para a consecução desse fim, ele sempre encontrava consolo em Nosso Senhor crucificado, que lhe dizia:
“Não temas nada, eu estarei contigo”.

Camilo terminou seus estudos e foi ordenado sacerdote, rezando sua primeira Missa em 10 de junho de 1584.
Ele foi encarregado da capela de Nossa Senhora dos Milagres, fundando ali sua Congregação. Esse pequeno núcleo inicial dividia o tempo entre a prece e o cuidado dos doentes. Iam seus membros cada dia ao grande hospital do Espírito Santo, onde consolavam os enfermos, arrumavam seus leitos, varriam as salas, faziam curativos em suas chagas e preparavam os remédios que lhes eram prescritos. Mas cuidavam especialmente de suas almas, preparando os doentes para receber os últimos sacramentos, ajudando-os com suas preces e não se separando deles senão depois de suas mortes.

Confiança absoluta na Divina Providência

A Congregação nascente, por causa de sua caridade, encontrava-se cheia de dívidas. Certo dia em que os sacerdotes estavam muito tentados por essa razão, Camilo disse-lhes que era preciso confiar na Providência, como Nosso Senhor tinha dito a Santa Catarina de Siena:“Pensa em mim, que eu pensarei em ti”. E profetizou: “Antes de um mês estaremos com todas as dívidas pagas”. E realmente, antes de 30 dias um benfeitor faleceu, deixando-lhes considerável  soma.
Os Ministros dos Enfermos, como eram chamados seus filhos espirituais, aos poucos foram abrangendo outras obras de caridade. Camilo quis que eles servissem também aos doentes atacados pela peste, aos prisioneiros, aos feridos em campos de batalha e aos que estivessem morrendo em suas próprias casas.
Sixto V confirmou a Congregação em 1586 e ordenou que ela fosse governada por triênio. São Camilo naturalmente foi eleito seu primeiro superior.

Caridade extrema até nas vésperas da morte
Após a realização do quinto capítulo da Ordem em Roma, em 1613, ele foi visitar suas outras casas com o novo superior geral.
De volta à Cidade Eterna, esgotado já pelas fadigas e sofrimentos, soube que brevemente chegaria a hora de comparecer perante o tribunal divino.
A úlcera na perna acompanhou São Camilo por mais de 40 anos, até o fim de sua vida. Foi ele também atacado por outras moléstias, levando uma vida de sofrimentos. Em sua última doença, quis ficar no hospital, e levantava-se de gatinhas do leito para ir cuidar dos enfermos.
Enfim, no dia 14 de julho de 1614, como havia predito, entregou sua alma a Deus. Tinha 64 anos de idade.

Muitos milagres se operaram em seu túmulo. Em 1742 foi ele beatificado por Bento XIV, que também o canonizou quatro anos depois.

Nenhum comentário:

Postar um comentário