terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

21 de fevereiro - Beata Maria Enriqueta Dominici

Toda a Igreja está em festa hoje, porque pode apresentar à veneração e imitação de seus filhos e filhas uma nova Beata: Maria Enriqueta Dominici das Irmãs de Santa  Ana e da Providência.

À primeira vista, a vida terrena da Beata Maria Enriqueta parece a vida normal de uma freira que viveu na segunda metade do século XIX, e, portanto, vinculada e condicionada por uma mentalidade que atualmente pareceria superada.
Mas logo que nos adentramos no aprofundamento e contemplação da sua alma, descobrimos uma riqueza, fertilidade e modernidade que nos fascinam e nos atraem. Neste levantamento nos ajudam tanto os testemunhos de pessoas que conheceram e viveram por anos ao seu lado, como a Autobiografia e Diário, escrito por ordem do diretor espiritual, e suas muitas cartas  que estão preservadas.

Maria Enriqueta Dominici foi principalmente uma mulher, uma freira que tinha experimentado de maneira forte a sensação de fragilidade essencial do ser humano e do senso de grandeza absoluta e transcendência de Deus. 

É a mensagem fundamental que já no Antigo Testamento, encontrada no Livro do Profeta Isaías uma de suas maiores expressões teológicas e poéticas: "Toda a carne é erva e sua beleza como flor campestre... A erva seca, e caem as flores, mas a palavra de nosso Deus permanece para sempre ... o Senhor é o Deus eterno e criou os confins da terra" (Is 40, 6. 8. 28; cf. 1 Pd 1, 24) mostra a grandeza de Deus, e ao contrário, a pobreza essencial do homem. Por isso, o homem torna-se algo apenas na medida em que reconhece sua dependência de Deus, e na medida em que conscientemente age à luz da vontade do Todo-Poderoso.

Uma mensagem clara que afeta profundamente o homem contemporâneo, que escuta, em todos os níveis, o eco das respostas provocadas pelo fenômeno da secularização.
Maria Enriqueta Dominici compreende desde muito jovem que vale a pena dedicar a vida inteiramente a Deus, e, como ela própria confessa que se deleitava "no desejo crescente de ser bom e servir ao Senhor de todo o coração"; e, fazendo eco das famosas palavras de Santo Agostinho, reconhece: "Somente Deus pode preencher e satisfazer o meu pobre coração, todo o resto não me importa".

Mas Deus, a quem desde pequena buscou e encontrou e a quem ela servirá por toda vida, é apresentado como o Pai de amor infinito. Discípula de Cristo, Maria Enriqueta, em seus escritos, em suas cartas, em suas palestras, vai chamar Deus com o nome familiar de "Pai meu", e com uma simplicidade e segurança que só almas cheias de fé pode ter, escreveu: "Me parecia repousar toda no colo de Deus como uma criança que dorme pacificamente no colo de sua mãe, amada de Deus, e eu quase diria, se não temesse exagerar, saboreando sua bondade".

Entregar-se a Deus na vida religiosa implica o abandono absoluto à sua vontade (cf. Mt 7, 21). Maria Enriqueta decidiu respeitar sempre, a todo custo, a vontade de Deus: "Eu sou toda do meu Deus e Ele é todo meu O que posso temer – escreve -  e o que eu não posso fazer e sofrer por seu amor, sendo toda sua? ... meu Deus, eu quero fazer a tua vontade e nada mais."
Ele desde muito jovem, tinha sonhado com o claustro. Mas Deus tinha outros planos. Aos 21 anos entrou na escola das Irmãs de Santa Anna e da Providência, a fim de proporcionar uma adequada formação para menina de famílias menos abastadas.
Nesta congregação, cujos propósitos espirituais estavam em sintonia com as exigências dos tempos, a madre Maria Enriqueta deu, nos seus 33 anos como superiora, impulso e ardor extraordinários, com a abertura excepcional e visão lúcida dos problemas urgentes da Itália e da Igreja nesse período complexo e intrincado, de 1861, o ano em que a Beata foi eleito pela primeira vez superiora, até 1894, ano da sua morte piedosa.

Em sua vida religiosa, primeiro como uma noviça, depois como professa e como Superiora Geral, a Beata viveu com alegre generosidade a plenitude da mensagem do Evangelho: pobreza, castidade e obediência, mostrando que a vida consagrada, longe de bloqueio para alma em um tipo de força individualista, abre horizontes insuspeitos e inexploradas e dá misteriosa capacidades internas fertilidade.
Outro aspecto que merece destaque na nova Beata, é o social: Maria Enriqueta também confirmou, mais uma vez, a grande verdade do evangelho que o genuíno amor por Deus é também verdadeiro amor ao próximo, especialmente pobres no corpo e no espírito. Seu grande modelo é sempre Cristo: "Viver para Jesus, sofrer por Jesus, o sacrificar-se por Jesus."
Suas últimas palavras, dirigidas as suas irmãs antes de deixar esta terra, foram: "Eu recomendo a humildade ... e humildade"

Papa Paulo VI – Homilia de Beatificação – 07 de maio de 1978

Catarina, era seu nome civil, nasceu em Carmagnola (Borgo Salsasio, Turim), em 10 de outubro de 1829, no seio de uma humilde família camponesa. Teve uma infância serena, circundada pelos afetos familiares, mas, em 1833, o pai abandonou a família, um pesar que marcou a sua infância e adolescência. Sua mãe, com os filhos, foi viver com um tio sacerdote em Borgo San Bernardo (também em Carmagnola), junto ao avô e uma tia. 

Diante do infortúnio, Catarina se abre para uma vida de doação e se volta para Deus, a quem sempre se refere como o “Meu Papai”, dirigindo-se a Ele com confiança filial. Catarina, de temperamento orgulhoso e independente, mas também terno e sensível, desde a juventude trava uma luta interior com a sua natureza, deixando que Deus molde o seu caráter. Transforma-se pouco a pouco em uma criatura humilde, simples, disponível, aberta e dócil à ação da graça. Aprende a dizer “sim” a Nosso Senhor dia após dia e começa a viver as virtudes de um modo heroico.

Quando manifestou seu desejo de fazer-se religiosa, seu tio sacerdote se opôs firmemente, enquanto sua mãe, se bem que não era contrária, sentia medo de ficar sozinha. Foi preciso que cinco anos se passassem para ela poder cumprir seus desejos. Fez parte da Companhia dos Humilhados, que tinha a missão de acompanhar os mortos à sepultura.
Em 1850, obteve a permissão de tornar-se religiosa, mas não de clausura como ela desejava: ingressou nas Irmãs de Santa Ana. Foi recebida no palácio Barolo de Turim pela fundadora, a Marquesa Júlia.

No dia 26 de julho de 1851 Catarina vestiu o hábito religioso, recebendo o nome de Irmã Maria Enriqueta. Nas comunidades nas quais o Senhor a coloca e nas várias situações nas quais se encontra vivendo, Irmã Enriqueta continuou de modo sempre mais intenso a vida de doação. A fidelidade nas pequenas ações é o segredo do seu caminho: “As pequenas ações feitas com grande amor valem muito mais que os atos heroicos feitos com objetivos humanos”.

Ao seu diretor espiritual, um jesuíta, manifestou sua aridez espiritual e seu desejo de ir como missionária à Índia. Para preparar-se obteve a permissão de privar-se "das coisas não absolutamente necessárias".
Em 1854 foi enviada a Castelfidardo, onde havia uma casa fundada uns anos antes, a pouca distância do Santuário de Loreto. Foi acolhida por suas Irmãs de religião "como uma espiã", mas em pouco tempo se fez amar.
Um ano depois de sua chegada eclodiu uma epidemia de cólera na cidade, quando as Irmãs se ofereceram para cuidar dos doentes; a dedicação da Beata foi extraordinária. Foi nomeada mestra de noviças.

Com 32 anos foi eleita Superiora Geral. Recebeu assim, ainda muito jovem, a herança de uma Congregação também muito jovem e deveria ser “a Madre” até o final da sua vida (1894). Escolhida por Deus para consolidar e desenvolver o Instituto, Madre Enriqueta foi fiel ao espírito dos Fundadores.

Abriu o Instituto aos horizontes da missão ad Gentes, enviando as primeiras seis missionárias à Índia, em 1871, pois desejava fortemente que Deus e o Seu amor fossem conhecidos no mundo inteiro, porque pensava: “é impossível conhecê-Lo e não amá-Lo”. Presentes primeiramente em Secunderabad, as Irmãs se propagaram em vários estados indianos, e hoje a missão na Índia é a maior do Instituto.
A Madre Maria Enriqueta esteve à frente da Congregação até sua morte, e a desenvolveu de forma excepcional. Fundou 32 casas, chegando a Roma e Sicília.  Foi conselheira de São João Bosco quando este criou a Regra das Filhas de Maria Auxiliadora, e lhe "emprestou" duas irmãs para a nova congregação.

Afável e gentil, Madre Maria Enriqueta era reservada e de poucas palavras. Com a permissão de seus superiores fez o voto extraordinário de buscar no cumprimento de cada ação o modo "mais perfeito". Meditava longamente diante do Tabernáculo e obteve da Santa Sé que suas religiosas pudessem comungar diariamente. Ao ler seus escritos, a Autobiografia e o enorme epistolário, se percebe seu total abandono nas mãos da Providência.

A Beata Maria Enrique procurou em todas as coisas a vontade de Deus e se abandonou, tornando-se com a sua própria vida um canto de louvor à Santíssima Trindade. É esta herança espiritual que deixa para suas filhas e a todos aqueles que têm a graça de encontrá-la no seu caminho.
Ela faleceu em Turim de um câncer de mama. Seus restos se encontram na capela da Casa Mãe de Turim.

No dia 7 de maio de 1978 o Papa Paulo VI a proclamou bem-aventurada, reconhecendo a sua riqueza e fecundidade espiritual e indicando o seu caminho de santidade como modelo a seguir. 

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