domingo, 24 de abril de 2016

São Fidelis de Sigmaringa


O Capuchinho São Fidelis de Sigmaringa é o primeiro mártir da «Propaganda Fide» Congregação fundada por Gregório XV, em 1622, na festa da Epifania. Ele é sobre­tudo o protetor e modelo dos nossos missionários.

Nasceu em Sigmaringa (Sudoeste da Alemanha), em 1577. Após uma infância feliz, parte com seu irmão, que mais tarde seria também seu companheiro de vocação, para Friburgo (Baden), a fim de frequentar os cursos da Universidade. Diante dele abria-se um horizonte cheio de esperança. Para completar a sua cultura, acompanha ao estrangeiro os filhos de uma família rica, visitando a Itália e a França. Aquela longa viagem serviu-lhe não só para aprender melhor o italiano e o francês, como também lhe deu a oportunidade de visitar os mais famosos santuários. 

Aprofunda ainda mais a sua  vasta formação religiosa; inscreve o seu nome em várias Irmandades; dedica-se a obras de apostolado e de beneficência; sentindo o desejo de se mortificar e de fazer penitência. Regressado à pátria, forma-se em Direito e, inscreve o seu nome no quadro dos advogados.
A sua honestidade moral e a sua valentia abrem-lhe as portas de uma carreira brilhante no mundo. É admirado, estimado e solicitado. Especialmente em Ensihein (Alsacia), obtém retumbantes e lisonjeiros sucessos. Mas não se deixa seduzir pela glória. É uma personalidade que trabalha e reflete; é um jovem profundamente apaixonado pelo Direito, mas preocupado, acima de tudo, em preservar a sua integridade moral.
Bem depressa, no entanto, se dá conta dos riscos da sua carreira e da vida forense. O mundo é perverso, os seus aplausos e triunfos não lhe enchem o coração! Iluminado pela graça de Deus, abre os olhos para outros horizontes: os horizontes da bondade e da glória de Deus.

Decide, como Francisco de Assis, deixar a glória e as riquezas mundanas, para seguir os passos de Cristo. Pede para entrar no convento: era o ano 1611. Angustiante dúvida o atormenta:
«Poderá ele, advogado já célebre e homem maduro, preparar-se, adaptar-se, humilhar-se às exigências do convento e de uma vida em Fraternidade»?

Os superiores também duvidam e, para não lhe tirar a esperança, adiam a sua entrada. Mas a sua vocação era autêntica, e quando o Senhor chama não há obstáculos intransponíveis. Resignar-se-á com aquele contratempo, mas, sempre confiante, aproveitará a demora para pensar no sacerdócio. Ei-lo de novo a bater e a pedir para entrar:
«Acabaram-se todas as dúvidas; custe o que custar, a minha meta é ser sacerdote de Cristo».

Os seus colegas noviços andam pelos 15 anos; ele vai já nos 34. Contudo, não se sentirá desorientado. Assim procurará trilhar melhor o caminho da bondade, do amor fraterno, da disponibilidade e da obediência. O padre Ângelo de Milão, ao dar-lhe o nome de Frei Fidelis, dirige-lhe calorosa exortação: «Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida» (Apocalipse).
E na capa do Breviário, e no seu quarto, escreve: «Lembra-te do  dia em que saíste do Egito».
Durante o noviciado escreve um livrinho de «Exercícios» sobre este tema dominante: ser todo de Deus, não viver senão para Ele, nenhuma outra preocupação senão a de lhe agradar; na procura e no reencontro com o Sumo Bem está a felicidade perfeita.

Ordenado sacerdote, entrega-se de alma e coração ao ministério pastoral. Era dotado de invulgares qualidades: vida íntegra, competência e dons de grande orador. Por isso, em pouco tempo, obtém inesperados êxitos. É um trabalhador incansável, sempre em permanentes viagens apostólicas. Não havia tempo a perder: os protestantes semeavam por toda a parte as suas doutrina e intrigas. 

Infelizmente, Feldkirch (Voralberg) cidade austríaca fronteiriça e seus arredores eram verdadeira terra de missão: a corrupção moral alastrava em todos os estratos sociais. Duro e árduo apostolado, mas o padre Fidelis não teme. Depois de ter fala­do dos Novíssimos, de ter apelado à conversão e ao arrependimento, investe um dia contra o luxo e a imoralidade; outro, contra as injustiças, a vingança, o ódio, a violação das leis.
Esbarra com oposições, presente intenções de ameaça, mas as autoridades vão-no deixando andar livre­mente. Chegam a condená-lo em público, recriminando-o de imprudente. Até as damas de alta sociedade o chamam de retrógrado.
Por outro lado, o seu coração ardente de missionário colhia exuberantes e consoladoras compensações: as conversões eram sempre numerosas; os pobres saudavam-no como seu defensor; e todos os que eram honestos o pro­clamavam como o anjo da paz, conselheiro do povo, pai da pátria.
Tempos difíceis aqueles: quantos crimes cometidos em nome da liberdade, desejada por uns só para si, mas nega­da para os outros! Os protestantes, bem protegidos pelos poderosos, encontrando clima favorável na corrupção em voga, difundiam rapidamente as suas doutrinas. Infiltraram-se também em Prattigau (temível e encantador vale de Rezia, próximo e paralelo a Volberg), tendo per­vertido aqueles rudes e obstinados montanheses.

O padre Fidelis irá lá vencê-los com força da Palavra de Deus. E obtém os primeiros frutos reconfortantes: certo calvinista faz, nas suas mãos, a renúncia à heresia, regressando à Fé Católica. Com ardorosas palavras, mas, sobretudo com a autoridade, o testemunho de vida e incríveis sacrifícios, conseguia opor-se à torrente devastadora.
Mas, até quando o deixariam em paz?

Eis que um dia decidem matá-lo. Aquele capuchinho, e intrépido missionário tinha os dias contados. Dentro em pouco não o encontrariam mais no seu caminho e, finalmente, reduziriam ao silêncio aquela voz incômoda.
Após uma reunião, maquinadas as formas de o liquidar, separam-se aos gritos: «Morte! Morte ao padre Fidelis. Tem de morrer».
Apunhalaram um gentil homem, que se tinha aproximado do missionário para abjurar da heresia, e encontraram no seu bolso este folhe­to: «Atenção! Avisai o padre Fidelis e os outros Capuchi­nhos de que se trama contra eles uma sanguinária conjura».

Era o primeiro mês de 1622. Entretanto, a recém criada Congregação da Propaganda da Fé, nomeia o intrépido missionário como chefe da missão na região dos Grijões. Ali lhe estará reservada a palma do martírio.
Ele confidenciara a um amigo da infância: «Nos Grijões encontrarei a morte certa». 
Em seguida acrescentou: «A obediência envia-me aos Grijões: eu estou preparado. Tal­vez já não nos vejamos mais neste mundo, mas não importa. Com a graça de Deus nos veremos ainda e para sempre no Céu».

A 24 de Abril, logo de manhã, confessa-se. Celebra a Missa com tal fé e piedade, que surpreende os assistentes. E, após a habitual ação de graças, sobe ao púlpito e dirige um inflamado sermão aos soldados.
De repente para, empalidece, e fica como que meditando. Poucos instantes depois, os seus olhos vivíssimos voltam-se para o Céu. A igreja estava apinhada de gente. São 9 horas. Sem demora sobe ao púlpito para anunciar a Palavra de Deus. Permanece por uns momentos em silêncio, pensativo; depois se saberá porquê. No púlpito, diante dele, um bilhete com as palavras: «Esta é a tua última pregação».
Estala a rebelião no país. Num dado momento, as munições, secretamente preparadas, explodem. Entra um sol­dado e grita: «Fogo! Fogo»!
O pânico é geral, mas o padre Fidelis, imperturbável, continua a pregação:
«Um só Senhor, uma só fé, um só batismo».
Mas a emboscada estava bem urdida. Chovem balas, pedradas e assobios. Intimam o pregador a descer. Caem massacrados os sol­dados que o defendem. Uma bala, disparada contra ele, trespassa o púlpito. Os fiéis fogem em pânico. O padre Fidelis desce e ajoelha diante do altar. «Não adianta, padre — segreda-lhe o sacristão cheio de medo — a morte é certa. —«Não tenho medo, amigo: estou nas mãos de Deus e da Sua divina Mãe».
Mas, momentos depois, acompanhado por um capitão austríaco, sai pela porta da sacristia e, graças a um sinuoso carreiro, parece estar a salvo. Tinha-se já afastado da igreja, à distância um tiro de espingarda, quando torce um pé e é forçado a parar. É a hora das trevas: surgem sicários calvinistas, armados de espadas, forquilhas e maçanetas de ferro. Ao capitão não lhe fazem mal e até lhe prestam auxílio; só querem ajustar contas com o padre Fidelis. Gritam-lhe: «Apostasia ou a morte»!
O missionário, com a calma dos santos, responde: «Não vim aqui, irmãos, para me fazer herege, mas para extirpar a heresia e dar-vos a conhecer que a única religião verdadeira é a católica; e tenho grande esperança que depressa regressareis à Fé dos vossos pais».
Nos rebeldes há um momento de indecisão; mas recobram de novo a sua habitual fúria e insultam-no! «Frade maldito, como te atreves a falar de uma religião estrangeira e de a implantar no nosso país?»
Um sicário, de aspecto sinistro, aproxima-se e sacode-o com violência: «Quereis sim ou não abraçar a nossa Reforma»?
E, sem esperar resposta, desembainha a espada e fere-lhe a cabeça. O padre Fidelis, a escorrer sangue, cai de joelhos e pronuncia as suas últimas palavras: «Senhor Jesus, perdoai aos meus inimigos; cegos pelo ódio e pela paixão, não sabem o que fazem. Meu Jesus, tende piedade de mim! Santa Maria, assisti-me».
Dois golpes de maçaneta acabam com ele. Não são homens, mas feras: trespassam-lhe as costelas, amputam-lhe as pernas e o pé direito. Tranquilo e sereno, o mártir de Cristo recebe a palma do martírio.

Eram 11 horas da manhã. Tinha 45 anos. Na terra, ensopada pelo seu sangue, desabrochou uma flor de deslumbrante beleza e exótico perfume. Beatificado em 1729, Bento XIV proclamou-o Santo a 29 de Junho de 1746. 

Um comentário:

  1. Ninguém pode mudar a vontade de Deus,quando somos chamados para servir é só questão de tempo!

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