segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Santa Teresinha do Menino Jesus - Diante do Papa Leão XIII

"Domingo, 20 de novembro, depois de nos vestir segundo o cerimonial do Vaticano, fizemos nossa entrada na capela do Soberano Pontífice. Às 8 horas, nossa emoção foi profunda ao vê-lo entrar, para celebrar a santa Missa... Depois de dar a bênção aos numerosos romeiros reunidos ao seu redor, subiu os degraus do santo altar e mostrou-nos, pela sua piedade digna do Vigário de Jesus, que era verdadeiramente "O Santo Padre".
Meu coração batia muito forte e minhas orações eram muito fervorosas, quando Jesus descia nas mãos do seu Pontífice, e eu estava muito confiante. O Evangelho desse dia continha essas palavras animadoras: "Não tenhais receio, pequeno rebanho, porque foi do agrado de vosso Pai dar-vos o seu reino". Eu não receava, esperava que o reino do Carmelo fosse meu em breve. Não pensava então nessas outras palavras de Jesus: "Preparo para vós, como o Pai preparou para ruim, um reino". Isto é, reservo para vós cruzes e provações; assim é que sereis dignos de possuir esse reino pelo qual ansiais. Por ter sido necessário o Cristo sofrer para entrar na sua glória, se desejais ter lugar ao lado Dele, bebei do cálice que Ele bebeu!... Esse cálice foi-me apresentado pelo Santo Padre e minhas lágrimas misturaram-se à bebida que me era oferecida. Depois da missa de ação de graças que se seguiu à de Sua Santidade, a audiência começou.

Leão XIII estava sentado numa grande poltrona, vestido simplesmente da batina branca, camalha da mesma cor e solidéu. Ao redor dele estavam cardeais, arcebispos, bispos, mas só os vi vagamente, estando ocupada com o Santo Padre. Desfilávamos diante dele, cada romeiro se ajoelhava, beijava o pé e a mão de Leão XIII, recebia sua bênção e dois guardas o tocavam para indicar-lhe que se levantasse. Antes de subir ao apartamento pontifício, eu estava muito resolvida a falar, mas senti minha coragem falhar vendo à direita do Santo Padre "o padre Révérony!..." Quase no mesmo instante, disseram-nos, da parte dele, que proibia falar com Leão XIII, pois a audiência estava se prolongando demais... Virei para minha querida Celina a fim de consultá-la: "Fala", disse-me ela.

Um instante depois, eu estava aos pés do Santo Padre. Tendo eu beijado sua sandália, ele me apresentou a mão. Em vez de beijá-la, pus as minhas e, levantando para o rosto dele meus olhos banhados em lágrimas, exclamei: 
"Santíssimo Padre, tenho um grande favor para pedir-vos!..." 
Então, o Soberano Pontífice inclinou a cabeça de maneira que meu rosto quase encostou no dele e vi seus olhos pretos e profundos fixarem-se sobre mim e parecer penetrar-me até o fundo da alma. 
"Santíssimo Padre", disse, "em honra do vosso jubileu, permitai que eu entre no Carmelo aos 15 anos!..." 
Sem dúvida, a emoção fez tremer a minha voz e, virando-se para o padre Révérony, que me olhava surpreso e descontente, o Santo Padre disse: 
"Não compreendo muito bem". Se Deus tivesse permitido, teria sido fácil para o padre Révérony obter para mim o que eu desejava, mas era a cruz e não a consolação que Ele queria me dar. "Santíssimo Padre", respondeu o vigário-geral, 
"é uma criança que deseja ingressar no Carmelo aos 15 anos, mas os superiores examinam a questão neste momento." 
"Então, minha filha", respondeu o Santo Padre, olhando-me com bondade, "fazei o que os superiores vos disserem." 
Apoiando minhas mãos sobre seus joelhos tentei um último esforço e disse com voz suplicante: 
"Oh! Santíssimo Padre, se dissésseis sim, todos estariam a favor!..." 
Ele olhou-me fixamente e pronunciou as seguintes palavras, destacando cada sílaba: 
"Vamos... Vamos... Entrareis se Deus quiser..." 
Sua acentuação tinha alguma coisa de tão penetrante e de tão convincente que tenho impressão de ouvi-lo ainda."

História de uma alma 

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