domingo, 10 de maio de 2015

São João de Ávila - Doutor da Igreja

João de Ávila viveu na primeira metade do século XVI. Nasceu em 1499 ou 1500 na diocese de Toledo, filho único de Alonso Ávila e de Catalina Gijón, pais muito cristãos e com uma elevada posição econômica e social. Com 14 anos foi estudar Direito na Universidade de Salamanca; porém, abandonou os estudos quando concluiu o quarto curso porque, por causa de uma experiência muito profunda de conversão, decidiu voltar para casa e se dedicar à meditação e à oração.

Com o propósito de se tornar sacerdote, em 1520 foi estudar Artes e Teologia na Universidade de Alcalá de Henares. Em 1526, recebeu a ordenação presbiteral e celebrou a primeira Missa solene na paróquia do seu povoado e, com a finalidade de partir como missionário para as Índias, decidiu distribuir a sua rica herança entre os mais necessitados. Depois, de acordo com aquele que viria a ser o primeiro Bispo de Tlaxcala, na Nova Espanha (México), foi para Sevilha para esperar o momento de embarcar rumo ao Novo Mundo.
Enquanto se preparava para viajar, dedicou-se a pregar na cidade e nas localidades circunvizinhas. Ali encontrou-se com o Servo de Deus, Fernando de Contreras, doutor em Alcalá e prestigioso catequista. Ele, entusiasmado com o testemunho de vida e com a oratória do jovem sacerdote João, conseguiu que o arcebispo sevilhano o levasse a desistir da sua ideia de partir para a América e a ficar na Andaluzia e permanecesse em Sevilha, compartilhando casa, pobreza e vida de oração com Contreras e, enquanto se dedicava à pregação e à direção espiritual, continuou os estudos de Teologia no Colégio de S. Tomás, onde talvez tenha obtido o título de Mestre.

No entanto, em 1531, por causa de uma sua pregação mal entendida, foi aprisionado. No cárcere, começou a escrever a primeira versão do Audi, filia. Durante aqueles anos, recebeu a graça de penetrar com profundidade singular o mistério do amor de Deus e o grande benefício feito à humanidade pelo Redentor Jesus Cristo. Doravante será este o eixo da sua vida espiritual e o tema central da sua pregação.Tendo sido emitida a sentença absolutória em 1533, continuou a pregar com notável êxito diante do povo e das autoridades, mas preferiu transferir-se para Córdova, incardinando-se na diocese. Pouco depois, em 1536, o arcebispo de Granada chamou-o para obter dele um conselho, e ali, além de continuar a sua obra de evangelização, completou os estudos nessa Universidade.
Bom conhecedor do seu tempo e com uma formação acadêmica excelente, João de Ávila foi um ilustre teólogo e um humanista verdadeiro. Propôs a criação de um Tribunal Internacional de arbitragem para evitar as guerras e foi também capaz de inventar e patentear algumas obras de engenharia. No entanto, vivendo na pobreza, centrou a sua atividade em acalentar a vida cristã de quantos comprazidos ouviam os seus sermões e o seguiam onde quer que fosse.
Especialmente preocupado pela educação e a instrução das crianças e dos jovens, sobretudo daqueles que se preparavam para o sacerdócio, fundou vários Colégios menores e maiores que, depois de Trento, se transformariam em Seminários conciliares. Fundou,  a Universidade de Baeza (Jaén), importante ponto de referência durante séculos para a formação qualificada de clérigos e seculares.

Depois de ter percorrido a Andaluzia e outras regiões do centro e do oeste da Espanha, pregando e orando, já enfermo, em 1554 retirou-se definitivamente numa casa simples em Montilla (Córdova), onde exerceu o seu apostolado elaborando algumas das suas obras através de uma correspondência abundante. O arcebispo de Granada quis levá-lo como assessor teólogo para as duas últimas sessões do Concílio de Trento; dado que não podia viajar por falta de saúde, redigiu os Memoriales que tiveram grande influência nesta reunião eclesial.
Acompanhado pelos seus discípulos e amigos e padecendo dores agudíssimas, com um Crucifixo nas mãos, entregou a sua alma ao Senhor na sua casa humilde de Montilla na manhã de 10 de Maio de 1569.
João de Ávila foi contemporâneo, amigo e conselheiro de grandes santos e um dos mestres espirituais mais prestigiosos e consultados do seu tempo.
Santo Inácio de Loyola, que tinha grande estima por ele, desejou vivamente que entrasse na nascente Companhia de Jesus; isso não aconteceu, mas o Mestre orientou para ela cerca de trinta dos seus discípulos melhores.
João Ciudad, depois de São João de Deus, fundador da Ordem Hospitaleira, converteu-se ouvindo o Santo Mestre, e desde então confiou-se à sua guia espiritual.
São Francisco Borgia, outro grande convertido graças à mediação de Padre Ávila, chegou a tornar-se prepósito-geral da Companhia de Jesus.
São Tomás de Vilanova, arcebispo de Valência, difundiu o seu método catequético nas suas dioceses e em todo o leste espanhol.
Outros seus conhecidos foram São Pedro de Alcântara, provincial dos Franciscanos e reformador da Ordem;
São João de Ribera, bispo de Badajoz, que lhe pediu pregadores para renovar a sua diocese e que foi depois arcebispo de Valência, tinha na sua biblioteca um manuscrito com 82 dos seus sermões;
Teresa de Jesus, hoje Doutora da Igreja, que padeceu grandes dificuldades antes de poder fazer chegar ao Mestre o manuscrito da sua Vida;
São João da Cruz, também ele Doutor da Igreja, que entrou em contato com os seus discípulos de Baeza que o ajudaram na reforma do Carmelo masculino;
o Beato Bartolomeu dos Mártires que, graças a amigos comuns, tomou conhecimento da sua vida e da sua santidade, e outros ainda, que reconheceram a autoridade moral e espiritual do Mestre.

Embora o «Padre Mestre Ávila» tenha sido, antes de tudo, um pregador, contudo não deixou de fazer um uso magistral da sua pena para expor os seus ensinamentos. Com efeito, a sua influência e a sua memória póstuma, até aos nossos dias, estão estreitamente ligadas não só ao testemunho da sua pessoa e da sua vida, mas também aos seus escritos, tão diferentes entre eles.

A sua obra principal, o Audi, filia, um clássico da espiritualidade, é o tratado mais sistemático, amplo e completo, cuja edição definitiva foi preparada pelo seu autor nos últimos anos de vida. O Catecismo, ou Doutrina cristã, única obra que ele mandou publicar durante a sua vida (1554), é uma síntese pedagógica, para crianças e adultos, dos conteúdos da fé. O Tratado do amor de Deus, um tesouro literário e pelo conteúdo, reflete com que profundidade lhe foi concedido penetrar no mistério de Cristo, o Verbo encarnado e redentor. O Tratado sobre o sacerdócio é um breve compêndio que se completa com as homilias, sermões e cartas. Existem também outros escritos menores, que consistem em orientações, ou Avisos para a vida espiritual. Os Tratados de Reforma estão ligados ao Concílio de Trento e aos Sínodos provinciais que o aplicaram e referem-se muito oportunamente à renovação pessoal e eclesial. Os Sermões e Homilias, como o Epistolário, são escritos que englobam todo o arco litúrgico e a ampla cronologia do seu ministério sacerdotal. Os comentários bíblicos — da Carta aos Gálatas à Primeira Carta de João, e outros — são exposições sistemáticas de notável profundidade bíblica e de grande valor pastoral.
Todas estas obras oferecem conteúdos muito profundos, apresentam uma evidente orientação pedagógica no uso de imagens e de exemplos, e deixam intuir as circunstâncias sociológicas e eclesiais da época. O tom é de suma confiança no amor de Deus, convidando a pessoa à perfeição da caridade. A sua linguagem é o castelhano clássico e sóbrio da sua terra de origem, La Mancha, às vezes misturado com a imaginação e o entusiasmo meridional, ambiente onde transcorreu a maior parte da sua vida apostólica.

«Atendendo ao desejo de muitos Irmãos no Episcopado e de numerosos fiéis do mundo inteiro, depois de termos recebido o parecer da Congregação para as Causas dos Santos, após termos meditado demoradamente e tendo chegado a uma convicção plena e segura, com a plenitude da autoridade apostólica Nós declaramos São João de Ávila, sacerdote diocesano, e Santa Hildegarda de Bingen, monja professa da Ordem de São Bento, Doutores da Igreja Universal, em Nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo».

Papa Bento XVI 07/10/2012

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